quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Parada Gay movimenta mais de 1 milhão na economia





Pesquisa inédita aponta também índice grande de violência 
contra homossexuais na Região das Vertentes

Parada em 2010 mobiliza 07 mil pessoas
O Movimento Gay da Região das Vertentes (MGRV) realizou na concentração da Parada da Cidadania e do Orgulho de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBT) da Região das Vertentes no ano de 2010 uma pesquisa inédita sobre o perfil dos participantes da manifestação. A pesquisa é apoiada pelo Ministério da Saúde, Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime e Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ).  O resultado foi divulgado hoje pela professora Daniela Ramirez, doutora em estatística e docente na UFSJ. O resultado aponta informações preocupantes sobre a população LGBT da região.

A pesquisa tem o foco no levantamento de dados sobre o perfil socioeconômico dos participantes, impacto econômico da parada e questões gerais sobre saúde, DST/HIV/AIDS, bem como temas da atualidade sobre direitos LGBT, violência e política.


PARADA GAY MOVIMENTA MAIS DE 1 MILHÃO

Os dados pesquisados sobre o impacto econômico da parada gay são reveladores. De acordo com os dados coletados a parada LGBT injeta na economia da cidade de São João del-Rei mais de R$1 milhão de reais. Dos entrevistados pela pesquisa 81% gastam até R$200,00 no evento, 14% gastam entre R$200,00 e R$400,00 e 5% gastam mais de R$400,00.  Das pessoas entrevistadas que não residem em São João del-Rei, 61% permanecem apenas o dia da parada na cidade e moram em municípios da Região. Turistas de outras regiões de Minas Gerais e de outros estados do Brasil permanecem cerca de três dias ou mais na cidade e representam 39% dos participantes.

Os setores da economia que mais se beneficiam com a Parada LGBT em São João del-Rei são restaurantes(37% dos participantes utilizam os serviços), comércio local(24% realizam compras no comércio em geral), rede hoteleira(18% se hospedam em hotéis), transporte coletivo(9% utilizam ônibus coletivo), postos de combustíveis, táxis e mototáxis (6% utilizam estes serviços).

VIOLÊNCIA E DISCRIMINAÇÃO

Questionados se já sofreram discriminação devido ao fato de serem lésbicas, gays, bissexuais, travestis ou transexuais a pesquisa constatou que 42% já sofreram agressão física, verbal ou ameaça de agressão, chantagem e extorsão.

 Sofreram discriminação ou foi marginalizada por professores e colegas de escola/faculdade (18%), a mesma porcentagem aponta que os LGBT são mais discriminados também por grupos de amigos e vizinhos (18%). Os dados apontam um grau de discriminação dentro da família (15%) e nos ambientes religiosos (10%). Cerca de 9% declaram sofrer discriminação no atendimento em serviços de saúde e 4% declaram já terem sido discriminados/maltratados por policiais ou mal atendidos em delegacias.

Questionados sobre agressão física e verbal 45% dos entrevistados afirmam já terem sido discriminados em ambientes públicos como ruas, shopping e praças. Em seguida as agressões acontecem em casa (16%), nas escolas ou faculdades (15%) e no trabalho (8%).
A maior parte dos entrevistados não denuncia a agressão sofrida. O índice desse dado é alarmante e chega a 59% dos entrevistados que não denunciam a homofobia. Os que contam a agressão sofrida para amigos chegam a 12%, os que contam a agressão para a família chega a 9% e apenas 8% denunciam na polícia ou pelos 190. Apenas 1% dos entrevistados afirma ter denunciado a agressão na imprensa e entidades de defesa dos direitos dos homossexuais. Nenhum entrevistado afirmou ter denunciado a agressão ao Ministério Público.

SAÚDE

A pesquisa quis ouvir também sobre o teste de HIV em São João del-Rei e na Região das Vertentes. Questionados se já fizeram o teste 16% afirmam fazer periodicamente, 26% fizeram uma vez, 14% fizeram mais de uma vez. Um dado alarmante foi constatado apontando que 33% nunca fizeram e não tem vontade de fazer o teste. Dos que tem vontade de fazer o teste, mas não sabem onde fazer chega a 11% dos entrevistados. Com recorte da orientação sexual o grupo das transexuais são as que mais se preocupam em realizar o teste, já os bissexuais são os que menos se interessam sobre a testagem.

Questionados sobre o uso da camisinha 53% afirmam que sempre usam, 14% usam na maior parte das vezes, 7% usam às vezes, 3% usam raramente e 23% nunca usaram a camisinha em suas relações sexuais.

DIREITOS E POLÍTICA

Carlos Bem comanda a Parada LGBT em São João del-Rei
A pesquisa procurou saber o que motiva as pessoas a participarem da parada LGBT. Dos entrevistados 29% participam para que homossexuais tenham mais direitos, 29% participam por curiosidade, 12% participam para paquerar, 11% por solidariedade aos amigos e parentes homossexuais e 19% por outros motivos.

Dos participantes da parada 59% já participaram de outras manifestações e 41% participaram pela primeira vez.

Um dado levantado que aponta avanço é quando questionados sobre o projeto de lei que garante a união civil entre pessoas do mesmo sexo. A pesquisa foi realizada muito antes da recente decisão do Supremo Tribunal Federal. Mesmo assim, 87% disseram ser favoráveis, 9% não conhecem o projeto e não quiseram opinar e apenas 4% afirmaram ser contra a igualdade de direitos civis para casais do mesmo sexo. Sobre a adoção de crianças por casais do mesmo sexo 83% são favoráveis, 11% são contra e 6% não quiseram opinar.

No campo da política a pesquisa verificou como anda o pensamento dos participantes da parada gay sobre candidaturas de pessoas assumidamente LGBT. Dos entrevistados 86% afirmam que votariam em algum militante que organiza parada LGBT para um cargo político e 14% disseram que não votariam.

Para o coordenador da parada LGBT da Região das Vertentes, Carlos Bem, a pesquisa aponta como é a situação de exclusão, violência e discriminação contra os homossexuais na cidade e região. “É uma violência silenciosa onde as vítimas têm medo de denunciar, de serem discriminados por quem deveria protegê-los. No campo da saúde ainda engatinhamos nas ações de promoção e respeito aos direitos humanos. A AIDS ainda é nosso principal problema de saúde pública” afirma Bem.

Sobre o impacto econômico da parada o militante acredita que é preciso um trabalho de sensibilização da prefeitura para o reconhecimento desse potencial turístico. “Todos os anos a secretaria de turismo e cultura nega apoio à estrutura da parada. Os homossexuais injetam mais de 1milhão nos cofres da prefeitura, mas a prefeitura nega uma estrutura melhor para realizar a parada. Não digo que seja homofobia diretamente, mas há um descaso total com o que injetamos de dinheiro que se converte em arrecadação, impostos e enche o cofre da prefeitura” comenta Carlos Bem.

A pesquisa foi realizada no dia 19 de setembro de 2010 na concentração da Parada da Cidadania e do Orgulho LGBT realizada em São João del-Rei. Foram ouvidas 610 pessoas dos cerca de 7mil participantes da parada. Os dados foram sistematizados pela professora da UFSJ Daniela Ramirez, doutora em estatística, com o apoio de dois bolsistas da UFSJ. O resultado da pesquisa será apresentado no Encontro Mineiro de Estatística a ser realizado no mês de setembro. A pesquisa contou com apoio do Ministério da Saúde, Escritório das nações Unidas sobre drogas e crime e da Universidade Federal de São João del-Rei.

A pesquisa e os dados oficiais serão apresentados na IV Semana da Diversidade Sexual da Região das Vertentes que acontece no mês de novembro na cidade de São João del-Rei.

Fonte: Secretaria MGRV

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