Por Neto Lucon | Container Conteúdo – dom, 29 de jan de 2012 11:11 BRST
Estigmatizadas e alvo de preconceito, as travestis e transexuais do Brasil ganharam há nove anos um dia especial. O “Dia da Visibilidade Trans” visa mostrar que elas estão inseridas na sociedade, acabar com o estigma da chacota e dizer que, sim, merecem respeito.
Na mídia, muitas trans estiveram presentes na arte, também conquistaram pela beleza e movimentaram os debates nos lares brasileiros. Na década de 60, uma dançarina transexual, vinda da França, foi o primeiro “frisson trans” no Brasil.
Chamada Coccinelle (1931-2006), a artista que possuía um quê de Marylin Monroe desembarcou no Rio de Janeiro em 1962. Muito sensual, provocou a curiosidade de muitos brasileiros, que não entendiam muito bem o que ela representava.
Tanto que foi preciso chamar o corpo de bombeiros para tirá-la de uma loja onde fazia compras. Preconceito? Que nada, todos queriam admirá-la de perto e desvendar seus segredos. Foi estrela de vários filmes, peças de teatro e foi a primeira – e única – transexual a ter o casamento reconhecido pela igreja católica.
AS ARTISTAS
Arte. Ah, se existe um ramo em que as travestis e transexuais se deram bem foi na artes. Seja nos palcos, na música, cinema e televisão. Que diga a travesti Rogéria, 68 anos, uma verdadeira vedete dos anos 70, que até hoje faz história na televisão, teatro e musicais.
Admirada pela família brasileira, desde Ninete de Tieta (1989), Rogéria foi pioneira no Brasil e referência para grandes artistas, como a travesti multimídia Claudia Wonder (1955-2010).
“Vê-la na revista ‘Cruzeiro’ com peruca e sem peruca foi determinante para mim: ‘é isso que quero ser: artista como a Rogéria”, disse Wonder, que se tornou cantora de rock na década de 80, ganhou um texto do escritor Caio Fernando Abreu, e até substituiu Sônia Braga em uma peça de teatro.
Isso sem falar da cubana Phedra de Córdoba, que se apresenta no grupo brasileiro “Satyros”, Weluma Brow, a única chacrete travesti, Nana Voguel, a “eterna miss”, Lívia Mendonça, a travesti cantora do “Ídolos”, Paula Sabatine, Divina Aloma, Marcinha do Corintho... Entre tantas outras.
AS BELAS
Quanto o assunto é beleza, o leque de beldades também desperta a atenção dos homens e, inevitavelmente, a ira das mulheres. A modelo transexual Roberta Close, ícone da década de 80, é o nome mais forte dentre todas.
O sucesso foi tão grande que as revistas “Playboy” e “Sexy” decidiram, pela primeira vez, fazer ensaios com uma musa trans. Ganhou uma música de Erasmo Carlos, se arriscou como cantora e, depois, se casou com um suíço, abandonando os flashes no Brasil.
Como resposta ao fenômeno Close, São Paulo se viu obrigado a ter também a sua representante. Surgiu, então, a travesti Thelma Lipp (1962-2004), tão bela quanto a primeira, que se tornou jurada do quadro “Eles & Elas”, no “Programa do Bolinha” (Bandeirantes), e inspiração para um filme, Thelma, de Pierre-Alain Méier.
Nos últimos anos, foi a travesti Patricia Araújo que roubou a cena. Desfilou no “Fashion Rio”, em 2009, estampou a revista “Marie Claire”, e protagonizou o primeiro ensaio sensual de uma trans no “Virgula Girl”, destinado a ex-bbbs, panicats e assistentes de palco. Tamanho sucesso tem o seu preço: “Sou alvo de inveja”, desabafa.
REALITY SHOWS
Na era dos reality shows, que se iniciou em 2000, a travesti Bianca Soares, participante da quarta edição da “Casa dos Artistas (SBT), em 2004, foi a pioneira do grupo.
O programa visava escolher o protagonista da próxima novela da emissora, mas demonstrou preconceito do telespectador logo na primeira semana: Bianca, a grande novidade, foi a primeira eliminada com 77% dos votos.
Curiosamente, Ariadna Thalia Arantes, a primeira transexual do “BBB11” (Rede Globo), em 2011, também foi eliminada no primeiro paredão. Embora alguns participantes tenham desconfiado, ela só revelou que era transexual após ser eliminada.
Fora do confinamento, Bianca estrelou a série “Mandrake (HBO) ao lado de Marcos Palmeira, mas fez carreira, mesmo, em filmes eróticos – um deles com o ator Alexandre Frota. Já Ariadna teve a façanha de posar para a revista “Playboy”, vinte anos após o fenômeno Roberta.
Em “A Fazenda”, o reality show da Record, a artista Nany People esteve na lista de famosos de 2010. Brincou, brigou, chorou e foi a quinta eliminada da atração. “Fui muito bem recebida pela família brasileira. No meu caso, não houve preconceito”, refletiu.
TOP TRANS
Tendência dos últimos anos, as transexuais se tornaram destaque no mundo da moda. A transexual italiana Caroline Cossey esteve em vários catálogos de moda nos anos 80, e a transexual novaiorquina Amanda Lepore ainda hoje é musa do fotógrafo David LaChapelle.
No Brasil, Lea T é a maior referência. Conquistou primeiro a Europa, em 2010, para só depois se tornar frisson em seu país. Estrelou a campanha da grife francesa Givenchy e foi a primeira a posar na capa da revista Elle brasileira, em 2011.
Em entrevista a Marília Gabriela, no SBT, Lea falou sobre seu sucesso, mas lamentou o preconceito: “somos o lixo da sociedade”.
Após Lea, outras modelos transexuais surgiram e despontam como processas das passarelas. Entre elas estão Carol Marra e Felipa Tavares. “Quero mostrar que a transexual tem o seu valor, ver outras modelos transexuais arrasando no mundo da moda”, frisa Carol.
SE ISSO É ESTAR NA PIOR...
Na questão do preconceito, muita coisa ainda precisa ser feita. Muitas travestis e transexuais ainda estão inseridas na prostituição, são alvo de transfobia e não encontram oportunidades no mercado de trabalho.
Porém, para as que se arriscam na arte, e na visibilidade que a mídia dá atualmente ao tema, podemos dizer que as coisas estão melhorando. Passo a passo, lentamente, mas melhorando. Afinal, está mais que provado que “travesti não é bagunça”.
Na mídia, muitas trans estiveram presentes na arte, também conquistaram pela beleza e movimentaram os debates nos lares brasileiros. Na década de 60, uma dançarina transexual, vinda da França, foi o primeiro “frisson trans” no Brasil.
Chamada Coccinelle (1931-2006), a artista que possuía um quê de Marylin Monroe desembarcou no Rio de Janeiro em 1962. Muito sensual, provocou a curiosidade de muitos brasileiros, que não entendiam muito bem o que ela representava.
Tanto que foi preciso chamar o corpo de bombeiros para tirá-la de uma loja onde fazia compras. Preconceito? Que nada, todos queriam admirá-la de perto e desvendar seus segredos. Foi estrela de vários filmes, peças de teatro e foi a primeira – e única – transexual a ter o casamento reconhecido pela igreja católica.
AS ARTISTAS
Arte. Ah, se existe um ramo em que as travestis e transexuais se deram bem foi na artes. Seja nos palcos, na música, cinema e televisão. Que diga a travesti Rogéria, 68 anos, uma verdadeira vedete dos anos 70, que até hoje faz história na televisão, teatro e musicais.
Admirada pela família brasileira, desde Ninete de Tieta (1989), Rogéria foi pioneira no Brasil e referência para grandes artistas, como a travesti multimídia Claudia Wonder (1955-2010).
“Vê-la na revista ‘Cruzeiro’ com peruca e sem peruca foi determinante para mim: ‘é isso que quero ser: artista como a Rogéria”, disse Wonder, que se tornou cantora de rock na década de 80, ganhou um texto do escritor Caio Fernando Abreu, e até substituiu Sônia Braga em uma peça de teatro.
Isso sem falar da cubana Phedra de Córdoba, que se apresenta no grupo brasileiro “Satyros”, Weluma Brow, a única chacrete travesti, Nana Voguel, a “eterna miss”, Lívia Mendonça, a travesti cantora do “Ídolos”, Paula Sabatine, Divina Aloma, Marcinha do Corintho... Entre tantas outras.
AS BELAS
Quanto o assunto é beleza, o leque de beldades também desperta a atenção dos homens e, inevitavelmente, a ira das mulheres. A modelo transexual Roberta Close, ícone da década de 80, é o nome mais forte dentre todas.
O sucesso foi tão grande que as revistas “Playboy” e “Sexy” decidiram, pela primeira vez, fazer ensaios com uma musa trans. Ganhou uma música de Erasmo Carlos, se arriscou como cantora e, depois, se casou com um suíço, abandonando os flashes no Brasil.
Como resposta ao fenômeno Close, São Paulo se viu obrigado a ter também a sua representante. Surgiu, então, a travesti Thelma Lipp (1962-2004), tão bela quanto a primeira, que se tornou jurada do quadro “Eles & Elas”, no “Programa do Bolinha” (Bandeirantes), e inspiração para um filme, Thelma, de Pierre-Alain Méier.
Nos últimos anos, foi a travesti Patricia Araújo que roubou a cena. Desfilou no “Fashion Rio”, em 2009, estampou a revista “Marie Claire”, e protagonizou o primeiro ensaio sensual de uma trans no “Virgula Girl”, destinado a ex-bbbs, panicats e assistentes de palco. Tamanho sucesso tem o seu preço: “Sou alvo de inveja”, desabafa.
REALITY SHOWS
Na era dos reality shows, que se iniciou em 2000, a travesti Bianca Soares, participante da quarta edição da “Casa dos Artistas (SBT), em 2004, foi a pioneira do grupo.
O programa visava escolher o protagonista da próxima novela da emissora, mas demonstrou preconceito do telespectador logo na primeira semana: Bianca, a grande novidade, foi a primeira eliminada com 77% dos votos.
Curiosamente, Ariadna Thalia Arantes, a primeira transexual do “BBB11” (Rede Globo), em 2011, também foi eliminada no primeiro paredão. Embora alguns participantes tenham desconfiado, ela só revelou que era transexual após ser eliminada.
Fora do confinamento, Bianca estrelou a série “Mandrake (HBO) ao lado de Marcos Palmeira, mas fez carreira, mesmo, em filmes eróticos – um deles com o ator Alexandre Frota. Já Ariadna teve a façanha de posar para a revista “Playboy”, vinte anos após o fenômeno Roberta.
Em “A Fazenda”, o reality show da Record, a artista Nany People esteve na lista de famosos de 2010. Brincou, brigou, chorou e foi a quinta eliminada da atração. “Fui muito bem recebida pela família brasileira. No meu caso, não houve preconceito”, refletiu.
TOP TRANS
Tendência dos últimos anos, as transexuais se tornaram destaque no mundo da moda. A transexual italiana Caroline Cossey esteve em vários catálogos de moda nos anos 80, e a transexual novaiorquina Amanda Lepore ainda hoje é musa do fotógrafo David LaChapelle.
No Brasil, Lea T é a maior referência. Conquistou primeiro a Europa, em 2010, para só depois se tornar frisson em seu país. Estrelou a campanha da grife francesa Givenchy e foi a primeira a posar na capa da revista Elle brasileira, em 2011.
Em entrevista a Marília Gabriela, no SBT, Lea falou sobre seu sucesso, mas lamentou o preconceito: “somos o lixo da sociedade”.
Após Lea, outras modelos transexuais surgiram e despontam como processas das passarelas. Entre elas estão Carol Marra e Felipa Tavares. “Quero mostrar que a transexual tem o seu valor, ver outras modelos transexuais arrasando no mundo da moda”, frisa Carol.
SE ISSO É ESTAR NA PIOR...
Na questão do preconceito, muita coisa ainda precisa ser feita. Muitas travestis e transexuais ainda estão inseridas na prostituição, são alvo de transfobia e não encontram oportunidades no mercado de trabalho.
Porém, para as que se arriscam na arte, e na visibilidade que a mídia dá atualmente ao tema, podemos dizer que as coisas estão melhorando. Passo a passo, lentamente, mas melhorando. Afinal, está mais que provado que “travesti não é bagunça”.